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Monday, March 28, 2005

12/XII - EM BUSCA DA BRUXA MALVADA

*
Os Macacos Alados


Imagem: Internet
 


 

 

Ao passarem pelo Portão da Cidade, o guardião tira os óculos de cada um. Sem eles, Dorothy observa que seu vestido que ganhou de Oz não era verde, mas branco, como também a fita no pescoço de Totó. E pergunta ao servidor:

- Qual a estrada para o Castelo da Bruxa Malvada do Oeste?

- Não existe caminho para aquelas bandas – garante o guardião.

Dorothy, quase perdendo a paciência:

- Ah, é! Então, como encontrar essa Bruxa Malvada?

- Relaxe, garota, relaxe!... Seguindo para o Oeste, ao entrarem nas terras dos Pisca-Piscas, a Bruxa Malvada do Oeste vai achar vocês e escravizar a todos.

- Isso é que vamos ver! – urra o Leão, confiante.

- Destruiremos essa peste em pouco tempo – promete em voz alta o Homem de Lata, levantando o machado no ar.

- Pois, tomem cuidado. Ela é malvada e feroz, jamais permitirá que a matem – acautela o Guardião.

- Mas vamos vencê-la – assegura o Lenhador bradando o machado.

O soldado de barba verde, ainda receoso, dá seu último conselho:

- Cada floresta fechada, ou campo deserto que não conhecemos, e no qual aventuramos a explorar é um perigo e uma esperança, uma promessa e uma armadilha.  

E depois de uma pequena pausa refletindo, conclui:

- Viajantes solitários como vocês devem manter um pé atrás. Afinal, estão todos no desconhecido e não é possível reconhecer a maldade de uma pessoa pelo seu rosto. Como há pessoas capazes de enganar em todos os cantos do mundo, por essas bandas do planeta não é diferente. Estejam sempre atentos e boa sorte para todos.

A turma agradece e se despede do Guardião dos Portões. Dorothy e os amigos, hesitando entre a esperança e a dúvida, tomam rumo do por do sol, na tentativa de encontrar alguma trilha para tornar menos árdua a viagem.

Assim foram. Na medida em que iam avançando, a região ficava mais acidentada e cheia de mato, inóspita. Não havia sítios nem casas, muito menos gente trabalhando a terra. Antes de anoitecer, Dorothy, Totó e o Leão, de tão cansados, resolvem repousar debaixo da primeira árvore bem copada que encontram pelo caminho. O Espantalho e Homem de Lata ficaram montando guarda para proteger os amigos.

Não muito longe dali, a Bruxa Malvada do Oeste, que só tinha um olho, mas potente como um telescópio e podia ver em todas as partes, observava os forasteiros nas suas terras. Tanto que viu Dorothy dormindo com seus amigos em suas terras. Furiosa, resmunga, entre os dentes:

- Arre!... Gente estranha em meus domínios!...

Inconformada com a invasão, ela convoca uma alcateia de lobos enormes, de largas patas e dentes afiadíssimos para destruir os viajantes.

- Façam em pedaços esses invasores – ordena ao Rei dos Lobos.

- Não quer torná-los escravos?

- Ficou bobo, bicho!... Um é de lata, o outro, de palha. Aquele lá, um leão, não tem serventia em minhas terras. A menina é muito pequena, teria pouco rendimento no serviço, e seu cachorro... Ai, detesto esse bicho! Não. Não me servem para nada. Vamos, cumpra minhas ordens: destrói todos.

- Perfeitamente – concorda o chefão.

E virando-se para seus comandados:

- Pelotão, em frente! Atacar!...

Na mesma hora dezenas de lobos disparam em direção a Dorothy e seus amigos. Como o Espantalho e o Homem de Lata nunca dormem, logo eles perceberam o perigo.

- Deixe comigo – pede o Homem de Lata, erguendo o machado.

Assim que os lobos iam chegando, um a um caía no chão com a cabeça cortada pelo machado afiado do Homem de Lata. Não ficou nenhum dos lobos para contar a história. Passado algum tempo, Dorothy acorda e leva susto com a quantidade de bichos mortos. O Homem de Lata conta-lhe tudo.

A Bruxa Malvada, ao ver seus lobos liquidados, se enfurece. Sopra duas vezes o apito prateado chamando os corvos selvagens. E dá ordens severas ao Rei dos Corvos:

- Liquidem com aqueles forasteiros.

- Prontamente, minha senhora.

Um bando de aves da família Corvidae sai voando em direção aos estranhos. Ao ver o inimigo se aproximando, o Homem de Lata pega o machado para se posicionar e defender seus amigos, mas o Espantalho dá um salto para frente, e grita:

- Agora é a minha vez. Fiquem todos quietos, deitados no chão.

O Espantalho fica de pé com os braços estendidos para espantar as aves. O Rei dos Corvos, ao notar seu bando amedrontado, crocita na maior altura:

- Medo de que, seus bobões! Não passa de um homem de palha. Deixem comigo, vou arrancar os olhos dele.

O Rei dos Corvos investe contra o Espantalho. Para quê?!... O boneco agarra a ave pela cabeça e torce seu pescoço até o último chiado. Outro corvo, cheio de ódio, quis vingar a morte do companheiro, mas também se deu mal, tombando sem pescoço. Como eram mais de quarenta corvos, por mais de quarenta vezes o Espantalho torceu pescoço de corvo. Não restou um para levar a má notícia ao Castelo da Bruxa Malvada do Oeste.

A feiticeira, lá do Castelo, ao ver a pilha de corvos amontoados no chão, fica ‘arara’ de raiva. Tira o apito de prata do bolso e o sopra três vezes. No mesmo instante, surge um enxame de Abelhas Negras.

- Piquem os forasteiros até que morram – ordena a Bruxa à Rainha das Abelhas.

Imediatamente, numa zoada dos infernos, as abelhas partem para o ataque mortal. O Espantalho, ao perceber os insetos, vindo em direção ao grupo, toma uma decisão rápida:

- Homem de Lata, temos que impedir que aquelas abelhas levem a melhor. Tire toda a palha do meu corpo e cubra com ela Dorothy, Totó e o Leão que ficarão deitados no chão, protegidos das picadas.

- Sim, claro.

- Então manda ver, rápido!

E assim foi feito. Quer dizer, quando as abelhas chegaram, de pé, elas só encontram o Homem de Lata. Furiosas, investem contra ele com tanta violência que quebram os ferrões no ataque. Mutiladas, iam caindo mortas no chão. Batalha vencida, o Homem de Lata chama Dorothy para ajudar a recolocar a palha no Espantalho. Depois disso, o grupo se põe a caminho do Castelo da Bruxa Malvada.

A Feiticeira quase enlouquece de raiva ao ver mortas suas abelhas. Sapateia. Grita palavrões. Range os dentes.  Inconformada, ordena a doze escravos, armados de lanças pontudas, que impeçam os forasteiros de chegar ao seu Castelo. Outro vexame!... Como os Pisca-Piscas não eram guerreiros valentes, ao ver o Leão rugindo, fogem assustados, feito diabo da cruz. Coitados!... Acabam duramente castigados pela Bruxa.

Agora, a Bruxa teria que convocar os Macacos Alados para destruir Dorothy e seus companheiros. Para isso, usaria o último pedido de uma Touca de Ouro encantada, que tinha guardada em seu poder. Corre ao armário, pega a vestimenta e a coloca na cabeça. Amparada apenas na perna esquerda, começa a dizer as palavras mágicas:

- Cashiel! Schaltiel! Aphiel! Zarabiel! Sapo ré Ep-pe! Soila i riê!

Depois, apoiada na perna direita:

- Sapo ré, prequeté! Ziri-zy! Ali-erê, erê!...

E sobre os dois pés:

- Gunga lá, gunga cá. Zapt Zipt Zupt. Zu-gunga.

O efeito foi rápido. Em menos de um minuto, os Macacos Alados surgem aos montes. Satisfeita, passa a ordem ao Rei:

- Destruam os forasteiros que entraram em meu país, menos o Leão. Resolvi ter o bicho trabalhando para mim.

- Suas ordens serão cumpridas – garante o Rei dos Macacos Alados.

Rapidamente os macacos voam para o ataque. Agarram o Homem de Lata e transportam o prisioneiro até uma região de rochas pontiagudas, onde jogam o infeliz sobre as pedras. Outros macacos tiram a palha do corpo do Espantalho, embolam suas roupas, as botinas e o chapéu numa trouxinha e atiram tudo para a copa de uma árvore. Outro grupo de macacos imobiliza o Leão com uma cordaço e o levam para uma pequena jaula, construída no quintal do castelo da Bruxa Malvada.

Dorothy assistia a tudo, tremendo de medo de ter o mesmo destino de seus amigos. Apertava Totó entre os braços, esperando sua vez de ser atacada pelos malfeitores, que davam sinal vermelho para os forasteiros. Mas, um dos macacos toma um grande susto ao ver a marca na sua testa. Retrocede, gritando:

- Não!... Não!... A menina não. Não podemos fazer nenhum dano a ela. Está protegida pelo Poder do Bem, que muito mais forte do que o Poder do Mal.

O Rei dos Macacos analisa a menina, insinuando:

- Deve ser uma bruxinha perdida neste fim do mundo!

- O que vamos fazer com ela? – pergunta um maçado curioso.

- A única coisa que podemos fazer é transportá-la para o Castelo da Bruxa. E com todo cuidado, ouviram?

Como não falava a língua dos macacos, Dorothy sorria em desespero, mas assim foi feito. Diante da Bruxa, o Rei dos Macacos explica:

- O Homem de Lata e o Espantalho foram destruídos. O Leão já está preso na jaula. A menina, ah, quando vimos que está protegida pelas forças do bem, não pudemos fazer nada contra ela. Nem ao cãozinho que carregava nos braços.

- Bom trabalho, macacada.

- Ok.

- Atchim!... Agora chispem daqui. Tenho alergia a pelos de macaco – rosna a Bruxa, torcendo o nariz.

- Muito bem. Devo lembrar que o seu domínio sobre os Macacos Alados termina aqui. Portanto, espero ser a essa última vez que nos vemos – assevera todo satisfeito o Rei.

- Atchim!... Diabo os carregue!...

Os macacos, irritados pela grosseria da Bruxa, levantam voo e somem entre as nuvens, rapidamente.

A Bruxa, um tipo de 999 anos idade, túnica rasgada e cabelos esvoaçados, examina o rosto de Dorothy e fica preocupada com a marca na sua testa. Ao ver o par de sapatinhos de prata nos seus pés, começa a tremer as pernas de medo, porque conhecia o mágico poder que tinham aqueles calçados. Pensa até em fugir. Mas, olhando bem nos olhos da garota, percebe a alma simples e pura por trás deles. E pensa: - Com certeza, ela desconhece o extraordinário poder desses sapatos. Posso escravizá-la sem o menor problema.

E num tom rude, mas cheia de pose:

- Menina, agora você é minha escrava. Venha comigo e obedeça as minhas ordens, viu? Caso contrário, terá o mesmo fim dos seus amigos.

Pobre Dorothy! A Bruxa Malvada, depois de pronunciar algumas palavras cabalísticas, pega a menina pelo braço e a leva até a cozinha para lavar a louça, varrer o chão e manter o fogo aceso do fogão à lenha. Em seguida, sai apressada para falar com o Leão Covarde, disposta a montar nele como num cavalo para passear pelos campos. Ao abrir a portinhola da jaula, o felino solta um urro tão alto que a Bruxa recua, rosnando:

- Estúpido!... É mesmo um idiota!

- Idiota é a senhora! – responde o Leão no mesmo tom, cheio de ódio por se desentender com a velha mandingueira.

- Como é que é?

- Isso mesmo que ouviu. Eu não sou da sua laia.

- Deixa estar, bicho do mato, um dia será meu asno, ouviu?

- Nunca.

- Pensa bem, Leão. Minhas mãos podem fazer carinhos, mas também podem açoitar um animal como você até a morte. Compreende?

Assim dizendo, a Bruxa, arrebata no ar o chicote de várias pontas que terminavam em bolas.

- Amansarei você pelo estômago. De hoje em diante só terá comida se me obedecer. Ouviu bem, seu asno?

Chispando fogo como um raio, o felino ribombou furiosamente:

- Dê o fora de minha frente, velha pernóstica.

Engolindo uma raiva danada, a Bruxa sai resmungando. Dias depois, ela volta à jaula e pergunta:

- Já podemos colocar os arreios no seu lombo?

O felino urra, fazendo uma careta terrível.

- Suma daqui, azarenta!...

O Leão não precisava obedecer a ordens da Bruxa, porque todas as noites, assim que ela dormia, Dorothy levava alimentos ao companheiro. Sentava-se ao seu lado e ficavam ali horas, traçando planos mirabolantes para fugir, mesmo sabendo que o Castelo era vigiado dia e noite pelos Pisca-Piscas, escravos da Bruxa Malvada.

- Todo cuidado é pouco, mas não podemos desanimar. Os sonhos nos ajudam a suportar a realidade que estamos vivendo – encoraja a menina.

 - Ainda não saquei a dela com essa vontade de colocar arreios em mim. Mas, o certo é que precisamos cair fora o quanto antes desse inferno .

Dorothy trabalhava o dia inteiro, sem reclamar. De quanto em quando parava de esfregar o chão e se endireitava sobre os joelhos para olhar para a Bruxa que, volta e meia, ameaçava espancá-la com uma velha sombrinha. Ameaças, apenas. Por mais topetuda que fosse não se atrevia a bater na menina, protegida pelas forças do bem. Mas, certa vez chutou um balde de lixo no Totó que dormia tranquilo num canto da cozinha. Para quê?!... Levou uma mordida tão violenta na perna para nunca mais mexeu com o cachorrinho, que sabia muito bem se defender.

A vida de Dorothy, à medida que o tempo passava, ficava mais difícil regressar ao Kansas.  Triste, ela chorava durante horas inteiras, com Totó estendido a seus pés para demonstrar o muito que sofria por sua amiga.

A Bruxa era mesmo vidrada nos sapatinhos de prata de Dorothy. Queria tomá-los a qualquer custo. Desconfiada, a menina só os tirava para dormir e tomar banho, desde que descobrira que a feiticeira tinha medo de escuro e muito mais de água.

Um dia, a Malvada espicha uma barra de ferro invisível no chão da cozinha, na qual a menina tropeçou e caiu. Não teve ferimentos, mas um dos sapatos voou e caiu justamente aos pés da Bruxa, que pulou de alegria, afirmando:

- Oba!... Agora o sapato é meu.

- Nem pensar – enfurece a garota depois de um ligeiro estremecimento.

- Quero o outro também.

- Devolva-me o meu sapato, Bruxa Malvada!

- Não, não e não – recusa a feiticeira, soltando gargalhadas.

- Você é mesmo uma criatura má, que toma o sapato de uma criança indefesa!

A Bruxa num gesto de desdém:

- Anda, me dá o outro.

Ao ouvir isso, o sangue sobe à cabeça de Dorothy. Tomada por um ímpeto de coragem, ela apanha um balde, despeja a água e molha a velha Bruxa da cabeça aos pés.

- Que é isso, maluca!... Você sabe que detesto água – esbraveja a Bruxa, apertando as mãos na cabeça, totalmente desorientada.

- Ah, é!... Sinto muito – diz Dorothy, vendo a bruxa agonizar.

- Você me paga, pestinha do inferno!... – ainda berra a Bruxa, enquanto se derretia feito pedra de açúcar numa xícara de café.

Em poucos segundos, ela desaparece. Exala-se no ar como pequena nuvem de fumaça. Dorothy calça de novo o sapatinho de prata, corre até a jaula e solta o Leão Medroso, dizendo:

- Estamos salvos!

- Ahn?

- Isso mesmo. A Bruxa Malvada do Oeste não existe mais, juro de pés juntos.

- Que notícia mais animadora!...

- Como foi isso?

- Aconteceu sem querer. Joguei um balde de água na cabeça dela. Em poucos segundos, a miserável se desintegrou no ar.

- A história é meio maluca, mas foi uma jogada genial.

- O importante é que ficamos livres dessa malvada e podemos ter do Mágico de Oz nossos desejos realizados.

- Você me espanta com sua sabedoria!...

- Vamos, estamos livres! A bruxa não existe mais – triunfa a garota.

Risos. O Leão com sabedoria:

- Ela prende e você solta. Fico devendo-lhe mais essa, menina.

- Agora, temos de encontrar um jeito de sair logo daqui.

- Ulalá! Ulalá! – aplaude o Leão, não cabendo em si de contente.

Dorothy cheia de alegria abre um sorriso glorioso nos lábios, dá um abraço apertado no Leão, que também recebeu elogios por atos de bravura.

 



 


* FBN© - 2013 – Em Busca da Bruxa Malvada   – Cap  12 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original, editado no ano de 1900,  por: Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.: Imagens da Internet  Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/em-busca-da-bruxa-malvada.html

 

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